GUIA DE COMPRA PARA UMA BOA BRASILIA
Vários foram os
visitantes que perguntaram como conseguir uma Brasilia com aparência original e
o mínimo por fazer. Ao responder vários e-mails, e somando as experiências de
3 anos que obtive na procura de um bom carro, foi possível estabelecer alguns
pontos básicos que podem determinar a escolha de um bom carro. Leia-os
atentamente e guarde-os se desejar. (JAN/04)
1.
EXTERIOR
Em primeiro lugar, procure dar atenção apenas àquelas Brasilias em que os detalhes principais pareçam não ter sido mudados, como rodas, parachoques (devem ser sempre cromados, variando de arredondados - modelos 1973-77, aos de cantoneiras pretas em plástico - modelos 1978-82).
Parachoque 1973-1977 |
1973-1977 Lanternas lisas |
Parachoque 1978-1982 |
1978-1982 Lanternas frisadas |
A roda original para todas as Brasilias
De modo geral você deve olhar as linhas de lataria do carro. Não existe comprovação 100% técnica e precisa, mas um "truque" que costuma funcionar, é olhar a lateral do carro de frente para trás e vice versa; para ver se ele está "torto" ou "reto". Muitas ondulações nas laterais denunciam uso abusivo de massa em amassados de batidas. Os parachoques devem ter folga igual dos dois cantos da carroceria, as portas, e capô devem fechar bem, sem a necessidade de pancadas e nem apresentar folgas aparentes - apenas o porta-malas é um pouco duro de fechar, porém isto é normal.
A pintura deve estar uniforme, sem grandes diferenças de tonalidade por partes no carro. Pequenos detalhes de borracha ou plástico inteiramente pintados mostram serviço anterior feito com pressa. Alguma ferrugem é normal na caixa do estepe, debaixo das borrachas das portas, capô e porta-malas, e em casos extremos, na parte inferior das próprias portas e abaixo delas, na chamada "caixa de ar". Porém, se houver ferrugem em demasia, desista; pois reparos com muita massa nunca ficam bons e as latarias paralelas (reposições), apesar de tratadas e garantidas contra oxidação às vezes dão folga depois de montadas.
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1- Painel frontal modelos 1973-1976, com os "bigodinhos"
2- Painel frontal modelos 1977-1982, "frente lisa"
Olhe ainda o assoalho (piso) por dentro e por fora. Por dentro, levante os tapetes e veja se não há umidade ou furos. Por fora do carro, olhe por baixo e veja se não há batidas ou apodrecimentos. A troca é possível, porém dispendiosa. Se a aparência do assoalho por dentro for apenas a da chapa de metal, indica que possivelmente já foi trocado. Se tiver uma espécie de forro emborrachado colado por cima, aumenta a chance de ser o original.
As borrachas de vidro dos modelos de qualquer ano devem ter frisos de alumínio prateados na sua extensão, aí serão originais, ou no mínimo trocadas em concessionária na época. Borrachas pretas muito salientes ou enrugadas demais (especialmente nas dobras) denunciam troca de vidro mal feita e não original. Apesar de que apenas um jogo de borrachas – caso esteja bom – não é o que deva impedir a compra do carro.
Borracha de vidro original, com friso de alumínio. Neste caso o vidro traseiro
2. INTERIOR
O painel dos modelos 1973-79 é baixo, com local para 3 instrumentos de formato circular (gasolina, velocímetro e relógio - ou sua respectiva tampa). Nos modelos 1980-82 o painel parece com os dos primeiros Gol - muito mais evoluído, em plástico injetado, e com mostradores grandes. Em ambos os casos não deve estar rachado ou partido (ainda que exista o painel dos modelos antigos à venda) Os instrumentos do painel de igual forma não devem mostrar sinais de "arrombamento" ou os plásticos do visor não devem estar brancos, foscos, emfim, deteriorados. É normal em alguns carros um certo amarelamento nos números e sinais dos instrumentos, mas eles não devem estar "encardidos".
Os 3 intrumentos do painel antigo da Brasília na fase 1977-79 (nesta imagem um modelo 1978). Da esquerda para a direita: Indicador de gasolina / Velocímetro / Tampa para relógio. Todos em bom estado. Ponteiro vermelho com pino preto, aro dos intrumentos preto (entre 78 e 79 pode-se também encontrar este aro dourado) e grafia mais limpa.
Já nas Brasilias entre 1973 e 1976 os intrumentos tem pequena variação na aparência: ponteiro laranja, pino prata, aro ao redor dos instrumentos também na cor prata e um "arco" desenahdo ao redor dos números. Apenas o desenho da tampa do relógio pode variar.
PAINÉIS
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1- Painel das Brasilias 1973-76 somente preto contrastando com a cor da carroceria mais alça para passageiro;
2- Painel das Brasilias 1977-79, podendo ser inteiramente preto ou inteiramente marrom, sem alça (NOTA: na foto, um volante não-original);
3- Painel das Brasilias 1980-82, podendo ser preto ou marrom.
Os assentos são um pouco frouxos nos trilhos. Mova a alavanca de regulagem, eles deverão rolar para frente ou para trás sem muita "luta". Se não rolarem nos trilhos, indica que estão emperrados. Encosto de cabeça, só de 1979 em diante, e só nos modelos luxo. Os painéis das laterais de porta só podem ser considerados bons se estiverem retos, lisos e sem parafusos na sua extensão, pois originalmente são presos por presilhas de pressão, e não deverão ser de outro material que não uma espécie de curvim (alguns com uma tira de carpete embaixo, ou frisos cromados - especialmente modelos luxo).
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Aqui, dois exemplos de painéis das portas não recortados para instalar alto-falantes
1) Painel de porta original inteiramente em curvim.
2) Painel de porta modelo LS, com frisos cromados e detalhe em carpete.
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Apoios para cabeça dos bancos dianteiros:
1) Modelo 1979 LS, integrado ao assento,
2) Modelos 1980 em diante, reguláveis e removíveis. De série no LS, opcional no standard.
Os cintos de segurança dianteiros são do tipo diagonal, prendem por cima do ombro, e não tem a faixa abdominal. Seu fecho é por mola e deve funcionar adequadamente. O forro do teto (sempre de vinil) não deverá estar com rasgos muito grandes, nem com muitas manchas. Nas 1973-79 o cinzeiro com a posição das marchas (1-2-3-4-N-R) é obrigatório. Rádio, deverá ser VOLKSWAGEN (na realidade um Bosch) PHILIPS, BOSCH ou BLAUPUNKT para ser considerado original da época. Olhando pela cara do aparelho, você logo verá se foi posto mais tarde que o original. Alto-falantes, deverão estar apenas instalados abaixo do painel de instrumentos ou abaixo do banco traseiro, no chamado “bate-pé”, para serem originais. No painel de porta, só pode ser bem aceito caso não haja danificado ou deformado o acabamento.
O cinzeiro no centro do painel, com o diagrama das marchas. Pode ser preto ou marrom. Tem aparência como esta nos modelos até 1979.
Um dos vários rádios dos anos 70, neste caso um Motoradio.
3. MECÂNICA
Não
caia em papo de vendedor, Brasilia só existe com motor 1600. (Exceção
seja feita apenas à raríssima versão à ÁLCOOL,
de 1980, que é 1300) O que varia é a
carburação, pois há as de carburação simples e dupla. As simples vão de
1973 a 76. Daí em diante, até 1982 SOMENTE DUPLA (à exceção do modelo 4
portas, que é uma verdadeira “mosca branca”).
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1) Motor carburação simples 1973-76 (e Brasilia 4 portas) - o carburador está ao centro (seta vermelha), e o filtro de ar, à direita, de formato grande. O filtro se liga ao carburador por um mangueirão de borracha, como da foto, não poderá ser outro.
2) Motor dupla caburação 1976 em diante - há um carburador de cada lado do motor, localize as pequenas tampas circulares pretas dos filtros de ar (setas vermelhas). Seu formato pode variar de ano a ano.
A partida pode ser meio demorada, mas sem ruídos estranhos. Ao virar a chave, acenderão duas luzes, a de pressão do óleo e do dínamo/alternador. Nas 1977 em diante, ao virar o arranque, acende-se mais uma luz vermelha, que é do freio. Todas deverão apagar quando o motor rodar. Na lenta é normal que a luz do alternador tenda a "piscar". Ela se apaga ao acelerar o carro, e é uma das que mais ativamente trabalham no painel da Brasilia. Raramente, a luz da pressão do óleo tende a demonstrar o mesmo comportamento – se isso ocorrer apenas na marcha-lenta, é normal.
Acelerando, o motor deve evoluir normalmente, sem estar muito preso, e não dar nenhuma "batida" como se chamam as detonações de ignição. A lenta pode apresentar pequenas oscilações, porém normais. Pise um pouco mais fundo e veja se o motor "fuma", se fumar demais pode já estar meio cansado, com anéis ou pistões já desgastados.
Alguns sinais mecânicos são típicos: (alguns exemplos)
- Fumaça na partida: folga nas válvulas, óleo em excesso na cabeça do pistão (pistão e anés gastos);
- Estouros: fora de ponto de ignição; caso seja com o carro andando, pode ser o escapamento furado;
- Lenta instável mesmo depois de quente ou de haver rodado: velas ou platinado gastos, caburador (es) desregulado (s).
Alguns proprietários já providenciaram a instalação de ignição eletrônica em algumas Brasilias. Mesmo não sendo original, o acessório é bem vindo, pois aumenta a vida útil de velas e cabos além de facilitar a vida do motorista com partidas mais prontas. O conjunto instalado é o mesmo dos Gol refrigerados a ar, que é Bosch. Verifique o estado dos componentes junto a um auto-elétrico de sua confiança.
4. TEST DRIVE
Se achar que o carro vale a pena, obrigatoriamente dê uma volta. Depois dessa
seqüência na partida, engate a primeira, que não deverá ser muito dura. Se
as marchas teimarem um pouco em entrar, geralmente é o sincronizado do câmbio gasto. Uma
peça barata, mas sua mão de obra é cara, pois a transmissão deve ser aberta
para a troca. Não
estranhe porém a embreagem, nas Brasilias sempre ficam "altas" e tem curso
longo.
Rodando, não deverá haver rangidos, tipo chiados ou assovios metálicos, pois podem ser buchas de suspensão estouradas. A direção é leve, e deve voltar ao lugar depois de uma curva. Alguma folga é normal, e deve ser mínima com o carro andando. Verifique se não há “jogo”, um ruído semelhante a um parafuso solto na caixa com o carro parado e o volante reto. Gire-o com os dedos só na faixa da folga, de um lado a outro, logo se perceberá. Cheque ainda os freios: o carro terá que parar em linha reta - desvios (ou “puxadas”) não são normais. Chiados indicam discos ou pastilhas "espelhadas" (muito tempo parada) ou mesmo muito gastas.
Verifique os comandos elétricos, como chave de seta (nos modelos 1980 em diante: lavador elétrico do vidro e temporizador do limpador - se disponível), buzina, alerta, faróis, limpadores e demais componentes. Se a volta foi boa, e o carro correspondeu com o demais acima, é praticamente o ideal.
5. PREÇO
(ref.: Jan/04)
Diante do mito de que o Volkswagen a ar "topa qualquer parada" e "não quebra nunca", a Brasília tem se tornado um carro muito difundido entre pessoas que não tendem a cuidar da manutenção, por isso, o preço muitas vezes diz tudo. Nem sequer considere os carros de menos de R$ 3.000, exigirão manutenção e reformas demais. De R$ 3.000 a 4.000 acham-se boas barganhas, acima disso começa a ficar bem interessante para quem quer um carro realmente excepcional. Enfim, para um bom carro, não há como ponderar o imponderável preço. Manual e notas fiscais num carro atraente, são ótimos cartões de visita. (E elevam o preço).
Geralmente senhores de idade ainda rodam ou guardam em suas garagens verdadeiras relíquias. Se souber de um tente conversar com ele, e pergunte sobre a possibilidade de venda. Enfim, nenhuma boa negociação é rápida, e nada que é bom sai de graça.
Por fim, espera-se que este pequeno guia será útil na sua busca. Vá com calma e pense bem antes de qualquer aquisição. Boa sorte na procura!
Parte - II: COMO CONVIVER COM SUA BRASILIA>
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