PB

 

POESIA

 

Por Vítor Caldeirinha

 

 

 

 

DESILUSÃO

 

Como era Lindo

Quando era Criança

O mundo que via

O Mundo de Esperança

 

Pelos filtros Maternos

O mundo Chegava

E quando Mais

Mais Pressa me dava

 

Julgava estar

Num Mundo perfeito

Onde Tudo Para mim

Tinha Sido feito

 

O Mundo cresceu

O Filtro Parou

Olhei em volta

E tudo Mudou

 

Não estava mais

Num mundo perfeito

Mas na confusão

De um Mundo desfeito

 

O medo veio

E a Raiva também

A esperança ficou

De um mundo além

 

Cá vou estando

No passar do dias

Sentado à espera

Talvez de um Messias

 

 

 

MULHER

 

Dinâmica,

 

Abrindo caminho pela Selva Social

 

Sentimental, Continuando a  ser mulher.

 

 

DJANGO

 

Vou contar a história

De um Brake da Praça

É o Djando do Vitória

Que de Piolhos anda à caça

 

O Djando Não dá chance

Aos putos da rua

Dança Brake dance

Mesmo quando sua

 

Suando anda ele sempre

Cheira Mal que trasanda

Parece uma Serpente

A Dançar Brake na varanda

 

A Dançar Brake na varanda

A Dançar Brake no quintal

O Djando quando sua

Cheira mesmo mal

 

Cheira mesmo mal

Cheira mesmo a Mejum

O Djando a Dançar Braka

Qualquer um

 

Vitor e Couto

 

 

At the start of the sound

You must jump to the ground

Music don’t stop

That’s all hip hop

 

If you want

To write like me

So many poetry

You must give our swete

……. (Couto manda-me o resto)

 

 

Corredores x passarinho

 

Apenas me saem corredores por esta caneta.

O passarinho, coitado, nem aparece neste

Amontoado de fios e resistências

Sou um robot, de onde, outra vez ou

Finalmente, só saem corredores

Metricamente medidos.

Curvas em ângulo recto

Entre o código binário e a cópia

Começo…, não começo…, tento, mas cedo

vejo a porcaria, a mecanização, a cópia,

a estupidez, o não chegar lá, o desespero

de estar a ser um alegre paxá

O passarinho não vem, há dias e dias que

O espero.

Fugiu. Já não sei porquê, nem como era lindo.

Talvez por eu só ter sentimentos

Fingidos, computados, sociais.

 

1987

 

DEUSA

 

Perdida deves estar,

Ó Deusa do amor,

Nesta terra de mortais.

Sei que vieste para me amar.

Que sorte foste pôr

Neste ninho de Dor.

Onde só já existe amor.

Ó que bela vos mostrais.

 

Por favor,

Deusa do Amor

Deusa do Luar

P´ró Olimpo

Não vais voltar

Pois,

Senão retorna a dor.

 

1987

 

 

RELIGIOSOS

 

Saltam juntos

De ramo em ramo

Tratam de assuntos

Do seu amo.

Pombinhos meus,

Ide depressa

Pois Deus

Pode não estar nessa.

E lá iam

De árvore em árvore

Juntos sorriam

Mas nunca o viam,

De árvore em árvore

 

1987

 

 

Aulas

 

Sentado no pequeno banco, sentia que subia.

Sorria. Cumprimentava.

Submetia-me às moralidades estranhas e superiores.

E esforçava-me. Esforcei-me muito.

A minha mãe levava-me um café ou um copo de leite quente para esfriar as ideias.

Usava todos os métodos.

Só me descuidava no horário e fazia algumas baldas às aulas.

Estudava.

 

1987

 

 

Padrinho Zé

 

Herói da Guerra, Mas perdeu a perna,

Mão na terra, mas a família governa,

 

Tinha mulher e filho, e uma prótese na perna,

Trabalhava, trabalhava, sempre com vontade eterna

 

Meu 1º leitor, comprava a minha edição

Sinto verdadeiro amor, no fundo do coração

 

Veio nos jornais, precisava de uma operação,

De dinheiro para a família, todos deram um tostão

 

Padrinho assim não há, uma homem espectacular,

Trabalhava de lá para cá, a sustentar o lar

 

Um dia adoeceu, ficou muito magrinho

Foi para o hospital, todos diziam coitadinho

 

Morreu, enterrou-se, ninguém mais

Comprou os meus jornais.

 

1987

 

 

 

Futuro pró jovem

 

Olho o presente

E vejo o futuro,

Que não está ausente,

Mesmo que escuro.

 

E olho as gentes

Que foram como nós,

Que estão cientes

E não perderam a vós.

Tenho esperança em nós

E num futuro melhor,

Com Deus ou sós.

Mas com muito suor,

Chegaremos à paz.

Ainda que sem nós.

 

1987

 

 

 

F. Pessoa

 

Críticos parvos, escutai:

Não faleis sobre mim como quem cospe,

Não digais às pessoas, palavras confusas

E estúpidas sobre mim

Que não quero meter medo, nem baralhar ninguém.

Leiam-me, desentendam-me, mas sozinhos.

Não sejais parvinhos.

Não me façam ser odiado.

Por favor, obrigado.

 

1987

 

 

Prisão Social

Reflexão

 

 

Reconheço e sei bem

Que tabus sempre estavam

No progresso e também

À desgraça levaram.

 

Ao tomar conhecimento

Que já era homem,

Veio ao me pensamento:

O que é que eles comem?

Porque tenho de ser

Tão forte e mau?

 

Têm que compreender

Que não sou de pau.

 

1987

 

 

Nuclear

 

Batam tambores tanto

Que nem cantando vão.

Nem se ouvem as sobras

dos que sentados estão.

Se se ouvissem sem se sentir

Diríamos que era festa

Mas desta vez ninguém vai ficar para dizer

O que quer que seja.

É o último tambor

A última guerra

A nuclear

 

1987

 

 

Ultramar

 

Um dia vi saltarem soldados

Vi catanas e mato.

Vi medo e aventura.

Vivia-se para matar

E para morrer!

Senti a sede,

A fome,

A dor,

A tristeza das perdas,

A raiva da fúria,

Não de vencer, nem de lutar,

Mas de vingar,

Mãos, pensos, sangue, lágrimas,

Armas, tabaco, saudade, braços, mortos.

Sempre uma certeza

Duma vivência inútil

Para mim e para o País.

 

1987

 

 

CAVALO

 

Correr! Correr! Correr! Correr!

Correr! Ái! Ái! Fugir! Fugir!

Fuuugiiir! Correr! Correr!

Haaaa! Parar! Pescoço! Agora!

Parar! Parar! Descançar! Beber! Sede!

Água! Bom! Bom! Humm! Tchoca! Tchoca!

Iiiiii! Susto! Fugir! Fugir! Correr!

 

1987

 

 

Setúbal

 

Parvas elevações verticais

Surgem rude e acastanhadas

Fortes e Acampanadas

Homens, trabalham devagar.

Na vida verde da vinha

Vagarosas uvas vão indo,

Pelas vias, para as vagas de vinho.

Lentos cães ladram ao gado.

O Sol alto queima as sobras.

E endurece enquanto aquece.

 

1987