Parâmetros de Qualidade das Águas
De forma genérica,
a poluição das águas decorre da adição de substâncias ou de formas de energia que,
diretamente ou indiretamente, alterem as características físicas e químicas do
corpo d’água de uma maneira tal, que prejudique a utilização das suas águas
para usos benéficos.
Torna-se importante ressaltar a existência
de duas formas distintas, pelas quais as águas poluídas atingem um determinado
corpo receptor (rio, baía, lago, lagoa, laguna, reservatório, aqüífero
subterrâneo e o mar).
A primeira, denominada fonte ou poluição
pontual, refere-se, como o próprio nome esclarece, à poluição decorrente de
ações modificadoras localizadas. E o caso, por exemplo, da desembocadura de um
rio, de efluentes de uma estação de tratamento de esgotos domésticos ou
industriais, ou mesmo, a saída de um tronco coletor de esgotos domésticos sem
tratamento, ou ainda a saída no mar, de um emissário submarino.
A segunda, poluição difusa, se dá pela ação
das águas da chuva ao lavarem e transportarem a poluição nas suas diversas
formas espalhadas sobre a superfície do terreno (urbano ou não) para os corpos
receptores. A poluição difusa alcança os rios, lagoas, baías, etc., distribuída
ao longo das margens, não se concentrando em um único local como é o caso da
poluição pontual.
O grau de poluição das águas é medido
através de características físicas, químicas e biológicas das impurezas
existentes, que, por sua vez, são identificadas por parâmetros de qualidade das
águas (físicos, químicos e biológicos).
De uma maneira geral, as características
físicas são analisadas sob o ponto de vista de sólidos (suspensos, coloidais e
dissolvidos na água) e gases. As características químicas, nos aspectos de
substâncias orgânicas e inorgânicas e as biológicas sob o ponto de vista da
vida animal, vegetal e organismos unicelulares (algas).
4.1. Principais Parâmetros de Qualidade das Águas
Os principais parâmetros físicos de
qualidade das águas são: cor, turbidez, sabor, odor e temperatura. Os químicos,
pH (acidez e alcalinidade), dureza, metais (ferro e manganês), cloretos,
nitrogênio (nutriente), fósforo (nutriente), oxigênio dissolvido, matéria
orgânica, micropoluentes orgânicos e micropoluentes inorgânicos como os metais
pesados (zinco, cromo, cádmio, etc).
Finalmente, os parâmetros biológicos são
analisados sob o ponto de vista de organismos indicadores, algas e bactérias.
O presente trabalho, para não ser
demasiadamente amplo e cansativo, busca a avaliação evolutiva da qualidade das
águas na zona costeira do Estado do Rio de Janeiro através de alguns parâmetros
que representam na sua essência, o diagnóstico básico sob os aspectos químicos
e biológicos das águas e, conseqüentemente, do grau de poluição. Além disso, é
importante ressaltar que a presente análise deu-se em função da disponibilidade
de dados monitorados junto às coleções hídricas pelas instituições ambientais e
de pesquisas oficiais do Estado do Rio de Janeiro e outros de interesse
especifico acadêmico.
Dentro do universo de dados e informações
levantadas junto àquelas instituições, o trabalho limitou-se, a principio, aos
seguintes parâmetros de qualidade de água:
· Oxigênio Dissolvido (OD);
· Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO);
· Nitrogênio Amoniacal (NH3);
· Nitrogênio Kjeldahl (NTK);
· Nitrato (NO3);
· Fósforo Total (PT);
· coliformes fecais (COLI. F);
· clorofila;
· Metais Pesados.
Para melhor compreensão das
finalidades de utilização destes parâmetros, faz-se a seguir, esclarecimentos
sobre cada um deles:
A. Oxigênio Dissolvido (OD)
O oxigênio dissolvido (OD) é geralmente medido
em miligramas por litro (mg/l) da água analisada. Provém, em geral, da
dissolução do oxigênio atmosférico, naturalmente ou artificialmente, e também,
da produção liberada por alguns microorganismos vivos na água (algas e
bactérias).
O oxigênio dissolvido é vital para os seres
aquáticos aeróbicos (dependentes de oxigênio). O nível de disponibilidade de OD
na água vai depender do balanço entre a quantidade consumida por bactérias para
oxidar a matéria orgânica (fontes pontuais e difusas) e a quantidade produzida
no próprio corpo d’água através de organismos fotossintéticos, processos de
aeração natural e/ou artificial. Se o balanço do nível de OD permanece negativo
por tempo prolongado, o corpo d’água pode tornar-se anaeróbico (ausência de
oxigênio), causando a geração de maus odores, o crescimento de outros tipos de
bactérias e morte de diversos seres aquáticos aeróbicos, inclusive peixes.
Portanto, o OD é um dos principais
parâmetros de caracterização dos efeitos da poluição das águas decorrentes de
despejos orgânicos. A solubilidade do OD é função da altitude e da temperatura
do corpo de água. Em geral, ao nível do mar e à temperatura de 20°C, a
concentração de saturação é de 9.2 mg/l.
Vale informar que valores de OD inferiores
ao valor de saturação podem indicar a presença de matéria orgânica e, valores
superiores, a existência de crescimento anormal de algas, uma vez que, como já
foi citado, elas liberam oxigênio durante o processo de fotossíntese.
Em resumo, o OD será consumido por bactérias
durante o processo metabólico de conversão da matéria orgânica em compostos
simples e inertes, como água e gás carbônico (CO2). Com isso,
crescem e se multiplicam e mais oxigênio dissolvido será consumido enquanto
houver matéria orgânica proveniente das fontes de poluição.
B. Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO)
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é
medida, em geral, em miligramas por litro (mg/l) e traduz indiretamente a
quantidade de matéria orgânica presente no corpo de água. A matéria orgânica é
formada por inúmeros componentes, como compostos de proteína, carboidratos,
uréia, surfactantes (detergentes), gordura, óleos, fenóis, pesticidas, etc.
Esta matéria, carbonácea, apresenta-se em
suspensão ou dissolvida, podendo ser biodegradável ou não. Dada a diversidade
dos compostos e formas como se apresenta no corpo d’água, procura-se
quantificá-la, indiretamente, medindo-se sua capacidade de consumo de oxigênio
dissolvido na água, que se dá através das bactérias oxidantes.
A DBO padrão é aquela que representa o
consumo de oxigênio no processo de oxidação da matéria orgânica presente em uma
amostra de água durante o período de 5 dias e incubada a 200 C. A DBO padrão é
universalmente utilizada e os dados apresentados neste trabalho foram obtidos desta
forma.
A DBO padrão está
associada à porção biodegradável da matéria orgânica de origem vegetal e animal
e também àquela presente nos despejos domésticos industriais.
Vale informar que os esgotos domésticos
possuem uma DBO em torno de 300 mg/l, que representa o consumo de 300 mg de
oxigênio em 5 dias, à 20 C, no processo de estabilização da matéria orgânica
carbonácea biodegradável presente em 1 litro de esgoto.
Resumindo, DBO alta significa presença de poluição
através da matéria orgânica proveniente de fontes pontuais e/ou difusas de
origem doméstica ou industrial.
C. Nitrogênio
Amoniacal (NH3)
Antes de melhor caracterizar o parâmetro em
questão, convém explicar resumidamente o ciclo do nitrogênio na biosfera. O
nitrogênio manifesta-se no ambiente de diversas formas, quais sejam:
· Nitrogênio molecular (N2),
livre na atmosfera;
· Nitrogênio orgânico
(dissolvido e em suspensão no corpo d’água);
· Amônia (livre – NH3 e ionizada – NH4);
· Nitrito (NO2);
· Nitrato (NO3).
No meio aquático,
as diversas formas de nitrogênio podem ser de origem natural (proteínas,
clorofila e outros compostos biológicos) e/ou de origem das atividades humanas
e animais (despejos domésticos e industriais, excrementos de animais e
fertilizantes). Nos esgotos domésticos frescos, predominam o nitrogênio em
forma de amônia e o orgânico.
A importância do conhecimento da presença e
quantificação do nitrogênio nas suas diversas formas na água refere-se ao consumo
de OD necessário durante o processo de nitrificação, isto é, a conversão de
nitrogênio amoniacal a nitrito e este a nitrato e, principalmente, a
proliferação de algas que tem no nitrogênio um elemento vital para seu
crescimento.
Cabe salientar que o crescimento
descontrolado de algas (floração das águas), em determinadas condições do corpo
d’água pode acarretar processos de eutrofização.
A eutrofização é um fenômeno indesejável,
pois modifica substancialmente as características físicas, químicas e
biológicas do corpo d’água. O crescimento excessivo de vegetação aquática,
eventuais maus odores, mortandade de peixe, mudança radical de cor, diminuição
excessiva de OD, secreções tóxicas de certas algas, etc., são algumas das
conseqüências do fenômeno.
Os processos de eutrofização somados ao de
assoreamento, aumentam gradativamente, o material sedimentado no fundo (matéria
orgânica em suspensão, vegetação aquática morta e sólidos carreados por
processos erosivos), provocando, lentamente, a morte e o desaparecimento do
corpo d’água.
Torna-se importante registrar mais uma vez,
que a amônia pode ocorrer na forma livre, que é o nitrogênio amoniacal NH3,
tóxica aos peixes e na forma ionizada (NH4), não tóxica.
Portanto, a medição do nitrogênio amoniacal,
geralmente avaliado em miligramas por litro (mg/l) é importante não só para se
constatar a presença de esgotos domésticos lançados recentemente no corpo
d’água, mas também como um indicador de futuro consumo de oxigênio no processo
de nitrificação anteriormente citado e possível crescimento de algas.
D. Nitrogênio Kjeldahl (NTK)
O nitrogênio Kjeldahl (NTK), medido em miligramas por litro (mg/l),
nada mais é que a soma do nitrogênio orgânico com o nitrogênio em forma de
amônia.
O NTK é a forma predominante
do nitrogênio nos esgotos domésticos brutos e daí sua importância como
parâmetro químico de qualidade das águas.
Dependendo do valor do pH dos
esgotos, a amônia, parte integrante do NTK, pode-se apresentar na forma livre
NH3 ou na forma ionizada NH4. Para valores de pH menores que 8, a amônia se
apresenta na forma ionizada.
E. Nitrato (NO3)
Como citado anteriormente, o
nitrogênio sob forma de amônia, se transforma com o tempo, dependendo das condições
física e química do meio aquático, em nitrito e, posteriormente, em nitrato
(nitrificação).
A presença de nitrogênio na
forma de nitrato no corpo d’água é um indicador de poluição antiga relacionada
ao final do período do processo de nitrificação ou pode caracterizar o efluente
de uma estação de tratamento de esgotos sanitários a nível terciário, onde o
processo de nitrificação é induzido e controlado com o objetivo de redução de
nutrientes.
No Estado do Rio de Janeiro não
existe nenhuma estação de tratamento a nível terciário operada pelo poder
público.
O nitrato, medido em miligramas por litro (mg/l)
de amostra d’água, pode sofrer também um processo de desnitrificação onde é
reduzido a nitrogênio gasoso. Já foi comprovada a relação entre a concentração
de nitrato e a ocorrência de cianose em crianças. A cianose provoca alterações
na composição sangüínea, levando a pele a uma coloração azulada.
O nitrato
em altas concentrações nas fontes domésticas de água (poços) pode trazer graves
problemas de intoxicação tanto no ser humano como nos animais.
F. Fósforo Total (PT)
O fósforo total (PT) é medido geralmente em
miligramas por litro (mg/l). A presença do fósforo na água pode se dar de
diversas formas. A mais importante delas para o metabolismo biológico é o
ortofosfato. O fósforo é um nutriente e não traz problemas de ordem sanitária
para a água.
A presença de fósforo nas águas
pode ter origem na dissolução de compostos do solo (escala muito pequena),
despejos domésticos e/ou industriais, detergentes, excrementos de animais e
fertilizantes.
A utilização crescente de
detergentes de uso doméstico e industrial favorece muito o aumento das
concentrações de fósforo nas águas.
Concentrações elevadas de fósforo
pode contribuir, da mesma forma que o nitrogênio, para a proliferação de algas
e acelerar, indesejavelmente, em determinadas condições, o processo de
eutrofização.
Por outro lado, o fósforo é um
nutriente fundamental para o crescimento e multiplicação das bactérias
responsáveis pelos mecanismos bioquímicos de estabilização da matéria orgânica.
G. Coliformes Fecais (COLI. F)
As bactérias do grupo coliforme
são utilizadas como indicador biológico da qualidade das águas. A contaminação
das águas por fezes humana e/ou animal pode ser detectada pela presença de
bactérias do grupo coliforme.
O grupo coliforme de bactérias se divide como indicador de contaminação
fecal, da seguinte forma:
· coliformes totais (fecal e não fecal);
· Coliformes fecais (fecal);
· Estreptococos fecais (fecal).
No intestino dos seres humanos e animais predomina
em grande número os coliformes fecais. Para se ter uma idéia, um indivíduo
elimina, em média, 10 bilhões de coliformes fecais por dia. Além dos coliformes,
existem, no meio intestinal, outras bactérias, vírus, protozoários e vermes, em
números significativamente menores. Nesse meio intestinal, podem conviver
agentes patogênicos, isto é, nocivos ao homem, como alguns tipos de bactérias
que podem provocar diarréias fortes, febre, náusea e o cólera, alguns tipos de
protozoários, responsáveis, inclusive, pela malária e vírus perigosos como
aqueles que podem levar a hepatite infecciosa, gastroenterite, febre amarela,
dengue e a paralisia infantil.
Assim sendo, na prática, a medição do número
de coliformes fecais em um corpo d’água é um indicador não só da contaminação
por fezes de origem humana e animal, como também da possibilidade de
coexistência de organismos patogênicos.
A contaminação fecal é geralmente medida em
número mais provável de coliformes por cem mililitros de água amostrada
(NMP/1OOml).
Os órgãos ambientais utilizam-se deste
indicador para diagnosticar também as condições para o banho de mar. Esse
serviço informa à população a adequabilidade ou não de banho junto às águas
litorâneas (excelente, muito boa, satisfatória e imprópria) e é denominado de
condições de balneabilidade.
H. Clorofila
A clorofila é um tipo de pigmento que existe
nos vegetais em geral, aí se incluindo os diversos gêneros de algas.
O papel da clorofila é fundamental na
fotossíntese, isto é, no mecanismo de nutrição dos vegetais.
A clorofila faz o papel principal no
processo, ao absorver a luz que, em seguida será aproveitada e transformada em
outra forma de energia durante a síntese (transformação de estruturas simples
em compostos orgânicos).
A reação de síntese que se passa nas células
vegetais possuidoras de clorofila é uma fotoquímica, na qual o gás carbônico
retirado do ar é combinado à água, consumindo energia armazenada pela
clorofila, através da luz, para formar compostos orgânicos e como subproduto, o
oxigênio. Portanto,
o conhecimento quantitativo da clorofila permite estimar a capacidade de
reoxigenação das águas no seu próprio meio, inferir sobre a densidade da
população de algas e avaliar o aporte da quantidade de nutrientes.
As algas são, em geral,
plantas microscópicas que podem se mover ao sabor das correntes por exemplo, o
fitoplâncton ou se aderirem nas superfícies, como as algas bênticas.
Como citado anteriormente, a floração das
águas, determina o crescimento anormal de algas no meio aquático pelo excesso
de nutrientes (nitrogênio e fósforo).
A clorofila é medida, em geral, em
microgramas por litro da amostra d’água.
I. Metais Pesados
Os metais pesados são
micropoluentes inorgânicos provenientes, na sua maioria, de efluentes
industriais e altamente tóxicos para a vida aquática.
Os principais metais pesados
presentes nas águas em forma dissolvida são cádmio, cromo, chumbo, mercúrio,
níquel e zinco.
Em geral, as concentrações de
metais pesados na água estão muito aquém dos padrões de qualidade
estabelecidos. Por outro lado, a tendência dos metais pesados é de se aderirem
aos sólidos em suspensão que por sua vez, sedimentam-se no fundo do corpo
d’água.
Procura-se analisar as
concentrações de metais pesados nos sedimentos, cujos valores podem ser
significativos e representam uma ameaça para a biota e, conseqüentemente, ao
ser humano que está no topo da cadeia alimentar.
Os metais pesados, além de serem
tóxicos são cumulativos no organismo e podem provocar diversos tipos de doenças
no ser humano com a ingestão de pequenas doses, por períodos consideráveis. Os
metais são medidos, geralmente, em miligramas por grama ou microgramas por
grama, expressos em peso seco.