Podemos dividir, sob o ponto de vista histológico, os músculos em 2 grupos:
Um
típico músculo esquelético é formado por numerosos
conjuntos de fibras contráteis denominados fascículos.
Cada
fascículo é constituído, por sua vez, por numerosas
fibras.
A
fibra apresenta uma resistente membrana que separa o seu meio interno do
externo, denominada sarcolema.
No interior da fibra se encontra um líquido intracelular denominado
sarcoplasma.
Submersos no sarcoplasma encontram-se numerosas unidades menores denominadas
miofibrilas.
No interior das miofibrilas encontram-se milhares de delgados filamentos
protéicos: Actina
e Miosina.
Vejamos, a seguir, de que forma ocorre o processo contrátil num músculo esquelético:
Os filamentos de Actina e Miosina estão dispostos entre sí de modo organizado, de tal forma que, durante o estado de excitação da fibra, deslizam-se uns sobre os outros. Tal deslizamento força um encurtamento das miofibrilas que estão no interior de uma fibra o que, consequentemente, faz com que a fibra inteira acabe também se encurtando.
Quanto maior é o número de fibras que se contraem simultaneamente durante um trabalho muscular, maior será a força de contração do mesmo.
Mas, afinal de contas, o que provoca tal deslizamento de filamentos protéicos?
Um elemento muito importante que se encontra no interior das fibras musculares e que desempenha um papel muito importante no processo contrátil é o íon cálcio. Uma grande quantidade de íons calcio se armazena no interior de enormes e numerosos retículos sarcoplasmáticos, que se encontram distribuídos no interior das fibras. A permeabilidade ao cálcio na membrana de tais retículos é normalmente pequena e, além disso, existem potentes bombas de cálcio que, ativamente, transportam os tais íons do exterior para o interior dos retículos. Por isso encontramos uma grande concentração de íons cálcio no interior dos retículos sarcoplasmáticos.
Mas acontece que, ao receber um estímulo em sua placa motora, a fibra muscular se excita e, durante todo o tempo em que a mesma permanece excitada, um grande aumento na permeabilidade aos íons cálcio se verifica na membrana dos retículos sarcoplasmáticos que se encontram em seu interior. Devido ao aumento na permeabilidade aos íons cálcio, um grande fluxo destes íons se verifica do interior para o exterior do retículo sarcoplasmático. Os íons cálcio, então, liberados em grande número para fora dos retículos sarcoplasmáticos, ligam-se quimicamente nas diversas moléculas de troponina, presentes nos delgados filamentos de actina. Isso provoca o deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina, tracionados pelas pontes cruzadas destes últimos, que se engatam quimicamente em determinados pontos (pontos ativos) dos filamentos de actina e os tracionam mecanicamente, como num mecanismo de roda denteada na corrente de uma bicicleta ou numa catraca ou mesmo numa cremalheira.
O processo descrito acima perdura enquanto a fibra muscular se mantém excitada. A mesma se mantém excitada enquanto continua recebendo estímulos químicos através de sua placa motora. A estimulação química na placa motora se faz através da liberação de acetil-colina pela terminação nervosa motora, enquanto os potenciais de ação ocorrem e se propagam à terminação nervosa. Uma vez cessada a excitação da fibra nervosa motora, os potenciais de ação através da mesma também cessam e, consequentemente, a excitação da fibra muscular também cessa. Imediatamente a permeabilidade aos íons cálcio na membrana dos diversos retículos sarcoplasmáticos se reduz, retornando ao normal. Rapidamente, então, a quantidade de íons cálcio no exterior dos retículos sarcoplasmáticos também diminui bastante e, consequentemente, a força contrátil se desfaz, devido ao desligamento dos íons cálcio que se encontravam nos filamentos de actina. A fibra muscular, então, se relaxa.
FATORES QUE DETERMINAM A FORÇA DE CONTRAÇÃO DE UM MÚSCULO ESQUELÉTICO DURANTE SEU TRABALHO:
Quanto
maior é o número de fibras musculares utilizadas ao mesmo
tempo, num mesmo músculo, durante uma contração do
mesmo, maior será a sua força contrátil.
Num
típico músculo esquelético, formado com até
milhares de fibras, muitas vezes um grande número de fibras são
utilizadas simultaneamente durante um trabalho de contração.
Embora
cada fibra seja individual, isto é, uma vez excitada se contrai
mas não passa a excitação para outra fibra qualquer,
mesmo que essa outra fibra se encontre muito próxima, normalmente,
um grande número de fibras num mesmo músculo são excitadas
simuntaneamente.
Existem
numerosas fibras que seriam inervadas, embora individualmente, por terminações
de ramificações axônicas de uma mesma fibra nervosa
motora. Um conjunto de fibras musculares inervadas por ramificações
de uma mesma fibra nervosa motora forma aquilo que chamamos de Unidade
Motora. Existem numerosas unidades motoras
num mesmo músculo, de diversos tamanhos. As maiores, formadas por
um grande número de fibras musculares (centenas), geralmente são
inervadas por fibras nervosas motoras mais calibrosas, de baixa
excitabilidade. São, portanto, mais dificilmente exitáveis
e necessitam de grandes estímulos para que possam se contrair. Já
as unidades motoras menores, formadas por um baixo número de fibras
musculares (algumas dezenas) são, geralmente, inervadas por fibras
nervosas motoras menos calibrosas e mais excitáveis.
São, portanto, muito mais facilmente excitáveis e não
exigindo grande intensidade de estímulos para que suas contrações
ocorram.
De acordo com as afirmações descritas acima, pode-se concluir que, na medida em que se aumentam a intensidade dos estímulos numa determinada área motora do sistema nervoso central responsável pela contração de um determinado músculo esquelético, mais intensas seriam suas contrações, pois um número cada vez maior de unidades motoras naquele músculo seriam utilizados. A isto chamamos Somação de Unidades Motoras.
Outro
fator importante que interfere na força de contração
de um determinado músculo esquelético, é a frequência
dos potenciais de ação que se dirigem às terminações
axônicas que se ligam às suas placas motoras. Quanto maior
a frequência de tais impulsos nervosos, maior será a quantidade
de mediadores químicos (acetil-colina) siberados na placa motora
muscular e, com isso, maior será a estimulação da
mesma. Além disso, as repetidas e rápidas contrações
musculares se somam umas às outras e, numa alta frequência,
vão aumentando o estado contrátil das fibras musculares.
Portanto, na medida em que aumentamos a frequência dos estímulos
em um conjunto de fibras nervosas motoras que se dirigem a um músculo
esquelético, mais intensas serão as contrações
do mesmo devido ao que chamamos de Somação
de Ondas.
Copyright - 1999 - Milton Carlos Malaghini