Durante uma situação de repouso inspiramos e expiramos aproximadamente 500 ml de ar a cada ciclo. Em repouso executamos aproximadamente 12 ciclos a cada minuto. Portanto, aproximadamente 6.000 ml de ar entram e saem de nossas vias aéreas durante 1 minuto.
Quando executamos uma atividade física aumentada, nossas células produzem uma quantidade bem maior de gás carbônico e consomem também quantidade bem maior de oxigênio. Por isso devemos aumentar também bastante nossa ventilação pulmonar pois, caso isso não ocorra, teremos no nosso sangue uma situação de hipercapnia e hipóxia. Tanto a hipercapnia quanto a hipóxia podem nos levar a um estado de acidose. A acidose, se não tratada, pode nos levar a um estado de coma e, posteriormente, à morte.
Tudo isso normalmente é evitado graças a um mecanismo automático que regula, a cada momento, nossa respiração, de acordo com a nossa necessidade a cada instante.
No tronco cerebral, na base do cérebro, possuimos um conjunto de neurônios encarregados de controlar a cada instante a nossa respiração: Trata-se do Centro Respiratório.
O Centro Respiratório é dividido em várias áreas ou zonas com funções específicas cada uma:
Zona
Inspiratória:
É
a zona responsável por nossa inspiração. Apresenta
células auto-excitáveis que, a cada 5 segundos aproximadamente,
se excitam e fazem com que, durante aproximadamente 2 segundos nos inspiremos.
A partir desta zona parte um conjunto de fibras (via
inspiratória) que descem através
da medula e se dirigem a diversos neurônios motores responsáveis
pelo controle dos nossos diversos músculos da inspiração.
Zona
Expiratória:
Quando
ativada, emite impulsos que descem através de uma via expiratória
e que se dirigem a diversos neurônios motores responsáveis
pelos nossos músculos da expiração. Através
de um mecanismo de inibição recíproca, quando esta
zona entra em atividade, a zona inspiratória entra em repouso, e
vice-versa. Durante uma respiração em repouso a zona expiratória
permanece constantemente em repouso, mesmo durante a expiração.
Acontece que, em repouso, não necessitamos utilizar nossos músculos
da expiração, apenas relaxamos os músculos da inspiração
e a expiração acontece passivamente.
Zona
Pneumotáxica:
Constantemente
em atividade, tem como função principal inibir (ou limitar)
a inspiração. Emite impulsos inibitórios à
zona inspiratória e, dessa forma, limita a duração
da inspiração. Portanto, quando em atividade aumentada, a
inspiração torna-se mais curta e a frequência respiratória,
consequentemente, aumenta.
Zona
Quimiossensível:
Situada
entre as zonas inspiratória e expiratória, controla a atividade
de ambas. Quanto maior a atividade da zona quimiossensível, maior
será a ventilação pulmonar. Esta zona aumenta sua
atividade especialmente quando certas alterações gasométricas
ocorrem: Aumento de Gás Carbônico,
Aumento de íons Hidrogênio livres (redução de
pH) e, em menor grau, redução
de Oxigênio.
O fator que provoca maior excitação na zona quimiossensível, na verdade, é o aumento na concentração de íons Hidrogênio livres no meio, isto é, uma situação de acidose.
Mas acontece que, na prática, verificamos que um aumento de gás carbônico no sangue (hipercapnia) provoca muito mais o aumento na atividade da zona quimiossensível do que um aumento na concentração de Hidrogênio em igual proporção no sangue. Isso ocorre porque o gás carbônico apresenta uma solubilidade muitas vezes maior do que a do hidrogênio e, com isso, atravessa a membrana das células nervosas com muito mais facilidade. No interior das células da zona quimiossensível, o gás carbônico reage com a água lá presente e, graças à enzima anidrase carbônica, rapidamente forma ácido carbônico. Este, então, se dissocia formando íon bicarbonato + íon Hidrogênio livre, sendo este último exatamente o que mais excita a zona quimiossensível.
A hipóxia também excita a zona quimiossensível, mas de uma outra maneira bem diferente: Na croça da aorta e nos seios carotídeos existem receptores muito sensíveis a uma queda na concentração de oxigênio no sangue: os quimioceptores (aórticos e carotídeos). Quando a concentração de oxigênio no sangue se torna mais baixo do que a desejável, estes receptores se excitam mais intensamente e enviam sinais à zona quimiossensível aumentando a excitabilidade desta e, com isso, aumentando a ventilação pulmonar.
EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA NA VENTILAÇÃO PULMONAR
Um aumento da atividade física também provoca aumento na ventilação pulmonar de outras formas:
Impulsos provenientes da área motora cortical, responsável pelo comando consciente de nossa atividade motora, ao se dirigirem para baixo, em direção à medula, passam pelo tronco cerebral (além de outras áreas) e fazem conecções com alguns neurônios desta região. Isso pode provocar aumento na ventilação pulmonar, muitas vezes mesmo antes que as alterações gasométricas (hipercapnia, hipóxia ou acidose) aconteçam.
Movimentos passivos também podem aumentar a ventilação pulmonar: Na profundidade de nossos músculos esqueléticos, nos tendões e mesmo no interior de muitas das nossas cápsulas articulares, possuimos receptores que se excitam a cada movimento dessas estruturas. Ao se excitarem, enviam impulsos que se dirigem à medula e também, muitas vezes, ao encéfalo, passando pelo tronco cerebral e fazendo conexões com neurônios do Centro Respiratório.
Copyright - 1999 - Milton Carlos Malaghini