Como um pequeno demônio em
férias, o Sr. Roberto Campos, que se auto-intitula um dos maiores intelectuais
do país, reapareceu ontem nas páginas da bíblia do neoliberal reacionarismo
nacional para intimidar o clero a abandonar as posições que vem assumindo em
defesa das liberdades e de combate às limitações sociais que aprofundam a
miséria e semeiam rebeliões.
O ex-coroinha que se diz
doutor, no seu esforço para posar de autoridade do laicato, convida os prelados
brasileiros a retornar ao conformismo que juntou a Igreja aos poderosos e
durante séculos a empurrou para longe dos seus rebanhos. Condena "o furor
dos cristãos novos do desenvolvimento", numa crítica evidente à maioria
dos dignatários da Igreja que, no Brasil, procuram aplicar as decisões do
Concílio Vaticano II e levar aos milhões de fiéis sob a sua liderança a
mensagem renovadora de Paulo VI.
O sr. Roberto Campos, que
volta a insistir em que ao povo cabe o sacrifício na desaceleração do
empobrecimento nacional, teve o cuidado de, no seu longo atentado ao
jornalismo, não citar sequer uma vez João XXIII ou Paulo VI, e só lembrar Leão
XIII como responsável pela recondução da Igreja à vanguarda dos movimentos
reivindicatórios de massas e povos.
Como um homem que vendeu
sua alma, o ex-ministro do Planejamento, cuja atuação na vida pública
brasileira é o avesso do exemplo de Thomas Moore, silenciou enquanto a Igreja
se manteve afastada do processo político brasileiro, precisamente porque o
clero se mostrava, pela omissão, um aliado do poder econômico. Quando esta
posição se inverte e a hierarquia católica volta a participar das lutas dos
povos pela auto-afirmação, o sr. Roberto Campos se atravessa no caminho dos
pastores.
* * *
O senhor Roberto Campos
mais uma vez exibe o seu tecnicismo estéril para acusar os padres de não entender
de economia. Com isso tenta desautorizar a inteligência católica, cuja
contribuição ao desenvolvimento cultural e técnico tem sido marcante em todo o
mundo, deformando-a perante a opinião pública, como se a Igreja fosse um clube
de industriais de preces.
Esquece-se o ex-coroinha
que foram precisamente dos mosteiros e universidades católicas que saíram
algumas das maiores expressões do conhecimento técnico, do qual o próprio sr.
Roberto Campos foi grande beneficiário, sendo mesmo um produto, deformado embora,
da pedagogia católica.
Mas o que faz o sr.
Roberto Campos sair de trás das caixas registradoras para atacar a Igreja pela
imprensa é o medo que o assalta ao medir a nova força colocada a serviço do
desenvolvimento. Uma força que certamente esteve, em muitos momentos da
História, a serviço do poder econômico, mas cuja presença foi decisiva em
muitos acontecimentos que modificaram o próprio curso da História.
Posta a serviço de uma
nação que tenta escapar ao guante do subdesenvolvimento, a ascendência da
Igreja sobre as massas poderá ser decisiva na superação dos entraves que nos
aprisionam, muitos dos quais foram criados pelos sábios de gabinete, dos quais
o sr. Roberto Campos era o papa e protótipo. Cego na estreiteza do seu
estigmatismo político, o ex-ministro não enxerga a universalidade dessa tomada
de posição que opõe a Igreja aos poderosos, no Brasil, como na Espanha e na
Polônia.
E certamente não
descobrirá que o próprio presidente Costa e Silva admitiu a justeza da atitude
do clero, ao falar ontem na Escola Superior de Guerra, quando fez suas as
palavras de Paulo VI, de que "o desenvolvimento é o novo nome da
paz". Com o desassossego dos que estão em luta com a humanidade, o sr.
Roberto Campos certamente dirá que o presidente, como o papa, também não
entende de economia e, por isso, não pode falar de desenvolvimento. Nem como
saída para a paz.
BRASILIA - O Brasil
inteiro sofre, desde o governo Fernando Collor, as conseqüências de ter
participado da destruição da Floresta de Sherwood. Da Floresta de Sherwood? O
que temos nós com aquela região inglesa que a literatura e o cinema
consagraram? Temos tudo.
Porque até 1990
tentávamos seguir os ensinamentos do Robin Hood, aquele que tirava dos ricos
para dar aos pobres e até sustentou algumas teses como a da "Teoria da
Dependência". Pelo menos, era essa a diretriz teórica implantada no Brasil
pelo presidente Getúlio Vargas desde 1930, através dos direitos sociais.
Com a globalização, o
próprio Robin Hood, coitado, virou pelo avesso, transformando-se no Hood Robin,
aquele que passou a tirar dos pobres para dar aos ricos. Todas as facilidades
foram dadas ao capital internacional, aos especuladores e a quantos imaginavam
ser nosso país um grande pernil, do qual tiravam e ainda tiram lascas cada vez
maiores e mais gordurosas de presunto.
Como a recíproca também
foi verdadeira - o Hood Robin surrupiou do trabalhador montes de direitos
sociais, sob a capa da "flexibilização" - nada mais do que um engodo
dos poderosos para permanecer explorando os menos favorecidos. Em suma, o nosso
Robin Hood mulatinho ajudou a destruir a Floresta de Sherwood, invertendo nome
e sobrenome.
Pois não é que agora,
como sempre lá do estrangeiro, na pele de presidente, o complicado personagem
volta a surpreender todo mundo e se apresenta de novo como Robin Hood? Porque
para arcar com as despesas de um salário mínimo apenas um pouquinho menos
ridículo do que os R$ 159 impostos por sua equipe econômica, FHC aceitou as
sugestões do secretário da Receita Federal, promovendo mudanças no imposto de
renda.
Os recursos suplementares
sairiam do fim de incentivos e isenções que beneficiam os ricos. Resumindo: os
que ganham mais pagarão mais. Não deixa de ser até cômico, se não fosse
trágico, o chefe do governo reconhecer que vinha sendo assim há muito, isto é,
que os ricos valiam-se de uma série de malandragens para pagar menos imposto de
renda, sob a alegação globalizante de que só riqueza produz riqueza.
Será mesmo para valer essa metamorfose presidencial?
Estaremos de novo
retornando àquela Floresta de Sherwood dos tempos da infância e da juventude,
povoada pelo frei Tuck, pelo João Grandão e, do lado de lá, pelo infame sherife
de Nottinghan?
Será bom esperar para
ver, mas formulando algumas questões básicas. De que maneira a equipe econômica
terá recebido a proposta oficializada por Fernando Henrique? Melhor dizendo,
qual a reação dos verdadeiros mestres de Pedro Malan e companhia, o FMI, o
Banco Mundial, os parceiros do consenso de Washington, George Soros, as
multinacionais e até o rei João Sem Terra?
De bom grado não terá
sido, porque essa história de tirar dos ricos para dar aos pobres contraria
toda a estratégia globalizante. Ainda há dias, a quadrilha conseguiu emplacar
para os especuladores internacionais a isenção do imposto sobre o cheque em
suas aplicações nas bolsas de valores brasileiras. Uma virada súbita e profunda
como a que propôs Everardo Maciel, uma espécie de rei
Ricardo Coração de Leão,
terá causado que tipo de sentimentos naqueles que dominam a economia mundial e,
em conseqüência, nacional?
Irão o ministro da
Fazenda, o ministro do Planejamento, o presidente do Banco Central e
penduricalhos pedir demissão? Ou conseguirão, como têm conseguido até agora,
conter bissextos arroubos do Hood Robin, perdão, do presidente da República,
quando S. Exa. lembra trechos de páginas que escreveu no passado?
Boas notícias são como
decisões do Judiciário: não se discutem. Aceitam-se. Essa possibilidade de
voltarmos a cultuar o Robin Hood e de contribuirmos para o reflorestamento da
arrasada Floresta de Sherwood não deixa de ser promissor. Tanto faz se nos
últimos anos ele tenha aderido ao Sherife de Nottinghan. Antes tarde do que
nunca. Apesar de tudo, é melhor fazer como São Tomé. Vamos ver primeiro para
acreditar depois...
O governo do presidente Fernando Henrique desagrada à grande maioria do eleitorado, menos pela confirmação mostrada em pesquisas fajutas e distorcidas, mais pela simples observação do que se passa no País. Multiplicou-se a exclusão social, cresceu o desemprego, aumentou a miséria e, mais do que tudo, floresceu a desesperança. Fica para outro dia examinar porque isso aconteceu, ou seja, se foi apenas por conta do modelo econômico globalizado que ele adotou.
Importa menos, hoje, registrar que o governo atual preocupou-se muito mais com o andar de cima, ao qual atendeu em todas as reivindicações, descuidando-se dos andares inferiores e, em especial, do porão, apesar de amplamente majoritários.
Na ânsia de buscar uma modernidade que não levaria a todos os benefícios da civilização e da cultura, S. Exa. meteu-se num gargalo entupido. Imaginou que do outro lado estaria o saca-rolhas dos ricos e poderosos, prontos para receber o Brasil como um deles. Frustrou-se, com o passar dos anos, bissextamente dando voz à sua frustração, em especial no exterior.
Comentários do Jornalista Cláudio Humberto:
Enquanto FHC reclamava na
Espanha do reajuste merreca nos salários arrochados do pessoal da Justiça, seu
vice Marco Maciel fazia publicar no "Diário Oficial" um decreto
aumentando o valor das diárias pagas pelo Erário ao presidente e ministros, em
viagens ao exterior. No mesmo ato, Maciel autorizou os ministros a adquirirem -
com dinheiro público, claro - passagens de primeira classe, 60% mais caras por
causa da mordomia.
No fundo, no fundo, o
governo deve ter algum plano sinistro de estimular os brasileiros a mudarem de
nacionalidade. Teria lá as suas vantagens.
O Leão avança no bolso do contribuinte nacional, para reaver - com juros e correção
- a CPMF que não foi recolhida graças a ações judiciais, mas ao mesmo tempo,
candidamente, isenta do mesmo tributo as aplicações dos estrangeiros nas bolsas
de valores. Melhor de ser lá.
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