O último show do Nirvana em 1991 foi na véspera do Ano Novo, em San Francisco, no histórico Cow Palace. A abertura foi feita pelo Pearl Jam que tocou "Smeels Like a Teen Spirit" com seu cantor Eddie Vedder brincando em seguida: "Lembrem-se que fomos nós que a tocamos primeiro." Era o reconhecimento daquilo que todos naquela noite no Cow Palace já sabiam: naquele momento o Nirvana era a maior banda do mundo e "Teen Spirit", a maior canção.
Naquela noite o ator Keanu Reeves tentou se aproximar de Kurt que refutou seus esforços. Ainda naquela noite, mais tarde, já em seu hotel, Kurt e Courtney Love (na época sua namorada) se sentiram tão assediados que colocaram um aviso na porta de seu quarto: "Por favor, nada de gente famosa. Estamos transando."
Quando o grupo (Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl) foi para Salem, no Oregon, para a última apresentação da turnê, seu álbum Nevermind tinha acabado de alcançar a cifra de 2 milhões da discos vendidos, para cada direção que Kurt se virava aparecia alguém pedindo-lhe algo - uma publicidade, uma entrevista, um autógrafo. Nos bastidores do show em Salem Kurt conversava com uma mulher que tentava convencê-lo a aparecer num anúncio de cordas de guitarra. Durante a conversa, ele percebeu que Jeremy Wilson, cantor dos Dharma Burns, um músico a quem ele admirava, passou rapidamente por eles. Kurt gritou seu nome e correu para abraçá-lo. Sem dizer palavra, Kurt ficou nos braços de Jeremy quase soluçando, enquanto Jeremy o reconfortava. Assim ele ficou, até que alguém veio pegá-lo e o levou para outro canto. Este episódio conta como estava o equilíbrio emocional de Kurt naquela fase de sua vida.
Dias depois, em Seattle, Rob Kader, um dos mais antigos e fiéis fãs do Nirvana, que assistiu a todos os primeiros shows da banda, estava andando de bicicleta quando ouviu alguém gritar seu nome. Era Kurt, que passeava com Courtney. Kader o congratulou pelo sucesso de Nevermind e pelo anúncio da apresentação do grupo no programa Saturdey Night Live, que iria acontecer dali a uma semana. Assim que acabou de falar, Kader sentiu que havia dito algo indevido. A atitude calorosa de Kurt mudou e ele ficou sombrio. Dois anos antes, quando Kader o cumprimentou dizendo que no último espetáculo havia 20 pessoas assistindo ao show do Nirvana, duas a mais do que no show anterior, Kurt saudou a notícia com um grande sorriso. Agora, no começo de 1992, a última coisa que ele desejava ouvir era que o Nirvana estava se tornando popular.
Na semana seguinte, a fama de Kurt cresceu ainda mais quando o Nirvana voou para Nova York e se apresentou no Saturdey Night Live. Ele levou na viagem sua mãe, Wendy e Carrie Montgomery, que na época era sua melhor amiga. Pela primeira vez o pessoal do Nirvana se encontrou com Wendy e quando lhe diziam "Kurt, sua mãe é legal" ele ficava ainda mais irritado do que quando comentavam que o Nirvana estava ficando popular.
O Nirvana chegou em Nova York e foi direto ensaiar para o show que seria três dias depois, à noite. Depois do ensaio, Kurt saiu para comprar drogas, que em Nova York eram bem fáceis de encontrar - na mais popular região de comércio de entorpecentes da cidade, Alphabet City, Kurt ficou surpreso em ver as pessoas em fila esperando pelo traficante, como narrava a música de Lou Reed.
Agora ele começava a curtir o ritual de usar a heroína - a droga chinesa, muito branca, fazia com que ele sentisse sofisticado (a heroína que chegava na Costa Oeste era escura), além disso, ela era mais barata e muito mais potente.
Dois dias depois, na sexta-feira, ainda em Nova York, Wendy bateu na porta do quarto de hotel de Kurt e ao entrar ficou chocada com a sujeira e desarrumação. O período de tempo em que o grupo ficou na cidade marcou uma divisão no Nirvana. Ali ficou claro que Kurt já havia mergulhado num processo de autodestruição e nada iria fazer com que parasse. Os sinais já vinham sendo notados - já estava difícil convencê-lo a ensaiar ou tomar qualquer atitude. Ao menor sinal de aproximação, Kurt punha-se na defensiva e chamava pelo seu direito à privacidade. Kurt e Courtney Love mudaram-se para outro hotel "oficializando" a divisão. Dali em diante ficou bem claro que havia duas turmas do Nirvana, com a "do mal", de Kurt, Courtney e Carrie Montgomery colocada de lado. Carrie: "Sentíamos que não éramos bem vindos e isso foi ficando cada vez mais negativo na relação com a banda."
Enquanto os empresários do Nirvana lutavam para manter a imprensa distante dos problemas que Kurt estava tendo com o abuso de drogas e da desunião do grupo, o álbum Nevermind chegava a primeiro lugar, tomando o lugar de Dangerous, de Michael Jackson.
Antes do show no sábado, no programa de TV, a banda teve uma sessão de fotos com Michael Lavine, que relembra: "Kurt chegou tão alto que caiu no sono, dormindo em pé, literalmente. Simplesmente ele não conseguia abrir os olhos."
Mais tarde, Kurt chegou nos estúdios da NBC para a gravação do programa. Estava quase sóbrio mas passou o tempo antes da apresentação estirado numa poltrona, alheio a tudo, ignorando Rob Morrow, o apresentador de Saturdey Night Live. Kurt havia pintado o cabelo, que estava com uma coloração avermelhada. Até o instante em que o grupo foi anunciado, tudo indicava que o desastre parecia eminente. Porém, como sempre acontecia em ocasiões semelhantes, Kurt realizou uma das melhore performances da sua vida. Ele parecia possuído, cantando bem e tocando melhor ainda, levando Dave Grohl e Krist Novoselic a tocar ainda melhor do que normalmente faziam. A música que apresentaram foi "Smells Like a Teen Spirit".
Quando voltaram para o segundo número, contra a vontade da produção tocaram "Territorial Pissings" e terminaram o show quebrando todo o equipamento. Enquanto os créditos rolavam, ouvia-se um último "fuck you", e Kurt e Krist se beijaram na boca. Nas várias vezes em que o programa foi reprisado, esse beijo "de língua" foi cortado da edição.
Kurt contou depois que a idéia do beijo foi dele, para confrontar "caipiras e homofóbicos de Aberdeen". Porém, a verdade é que Kurt queria sair de cena sem se despedir e Krist o impediu. "Fui na direção dele", conta Krist, "agarrei Kurt e coloquei a língua na boca dele, beijando-o. Queria que ele se sentisse melhor. No final de tudo, disse para ele: 'Está tudo bem. Não foi tão ruim, foi?'."
Dando a desculpa de que deveria fazer uma entrevista, Kurt escapou da festa feita pelo cast do programa. Claro que ele estava tão atrasado para a entrevista que ela não pôde ser realizada naquela noite. No dia seguinte, bem cedo, ele foi até o quarto do DJ Kurt St. Thomas, no Righa Royal Hotel, e deu uma das mais longas entrevistas da sua vida, que viria fazer parte do CD promocional Nevermind: It's An Interview. No fim da entrevista, Mark Kates da Geffen Records disse a St. Thomas: "Puxa, nem posso acreditar que ele falou tanto com você. Mas não sei se tudo que ele falou é verdade." De fato, Kurt inventou parte de seu passado. A história de que ele foi "expulso" de casa aos 17 anos, e que foi morar sozinho sob a ponte Young Street (em Aberdeen, Washington), por exemplo, é pura fantasia. O lugar ficava perto da casa de Kurt e era onde ele se escondia para fumar.
Horas depois da entrevista, Kurt entrou em coma pela primeira vez por abusar da heroína. Sua vida foi salva por Courtney que sabia bem como lidar com esse tipo de situação. Ainda naquele domingo, Courtney e Kurt deram uma entrevista teen Sassy, na qual ele disse que se sentia feliz com o casamento com Courtney e que apenas isso importava: "Eu poderia deixar o grupo hoje mesmo, não importa. Porém estou sob contrato." Quando perguntado se queria ter um filho, Kurt respondeu: "Somente quando estiver estabelecido e seguro. Quando eu tiver uma casa e dinheiro no banco." Ele não sabia que Courtney já estava esperando um bebê.
O estado emocional de Kurt Cobain já na época equilibrava-se por um fio. O uso abusivo de heroína começava a alterar sua personalidade. daí ele começou a mostrar-se progressivamente paranóico, a ter constantes crises de choro e buscar o isolamento. Um anúncio da tragédia que aconteceria dois anos depois quando, sem mais qualquer controle sobre sí, Kurt Cobain cometeu o suicídio.