Argumentos Falaciosos:

O Dr. Carl Sagan, em seu livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios" (que considero o melhor) fala do "kit" de detecção de mentiras, que um bom cientista tem que ter sempre à mão e usar. "O que tem no kit?" ele pergunta e na mesma linha responde: "Ferramentas para o pensamento cético."

O pensamento cético se resume no meio de construir e compreender um argumento racional e reconhecer um argumento falacioso, isto é, uma mentira. O importante não é o que se gostamos ou não da conclusão, mas se ela realmente deriva da premissa apresentada e se essa premissa é valida.

As falácias mais comuns são:

  1. Argumentos "ad hominem" expressão latina que significa "ao homem". Acontece quando atacamos a pessoa que fala e não o argumento. Exemplo: "Você não vai acreditar na palavra de um negro, não é?!" ou "Fernando Henrique é um péssimo presidente. Também, o que você queria de um sociólogo?!"
  2. Argumentos de Autoridade tipo de argumento que se baseia na autoridade de quem fala e não na lógica. Exemplo: "Quem me disse que beber água faz mal foi o Sr.Luís, deputado federal, então só pode ser verdade." ou "Se o pajé mandou não dar remédios às crianças e esperar os espíritos curarem elas, então é certo. O pajé não erra."
  3. Argumento das Conseqüências Adversas tipo de argumento que tenta validar uma afirmação dizendo que seria impossível se ela não existisse.Exemplo: "Se não existisse um Deus tomando conta de tuso, isso aqui viraria uma bagunça!" ou "Se não matarmos esse bandido, os outros terão certeza da impunidade e a criminalidade vai aumentar muito!"
  4. Apelo à ignorância a afirmação de que qualquer coisa que não se provou ser falsa, é verdadeira, e vice-versa. Exemplo: "Ele não provou que é homem, então ele é homossexual." ou "Ninguém conseguiu provar que não existe imortalidade, então, na verdade, somos todos imortais."
  5. Alegação Especial Afirmação que recorre a conceitos que seriam inatingíveis para as pessoas comuns (freqüentemente usado para salvar um argumento em profundas dificuldades teóricas). Exemplo: "- Não consigo entender a reencarnação, porque há muito mais gente viva hoje, do que há 10.000 anos. / - Isso é porque você não entende a doutrina dos espíritos." ou "Você não compreende a magia porque não é um iluminado."
  6. Petição de Princípio (também chamada de Supor a Resposta) é quando se faz uma pergunta direcionada para obter determinada resposta específica. Exemplo: "Você não acha que essa estória é falsa?" ou "No meu lugar você não faria a mesma coisa?"
  7. Seleção das Observações (também chamada de Enumeração das Circunstâncias Favoráveis) Francis Bacon definiu essa falácia como "Contar os acertos e esquecer os fracassos." Exemplo: "O brasileiro é bom de plano econômico, veja quanto tempo o Real deu certo." (Esqueceu de mencionar os casos em que não durou nem uma semana, como cruzado, cruzado II, cruzeiro real etc.)
  8. Estatística dos Números Pequenos falácia parecida com a anterior, mas só que usa números estatísticos de forma errônea. Exemplo: "Dizem que no planeta Terra, em cada cinco habitantes, um é chinês. Que estupidez! Conheço mais de cem pessoas e nenhuma delas é chinesa!"
  9. Compreensão Errônea da Natureza Estatística é quando se pega uma estatística e se interpreta livremente, sem compromisso com a realidade.
  10. Incoerência tomar certa atitude para certos casos, e outra para outros.
  11. "Non Sequitur" expressão latina que significa "não se segue". Dizer uma coisa que não tem nada a ver com outra. Exemplo: "O América vai ganhar esse jogo por que Deus é grande!" ou "Nosso país é muito rico, por isso temos inflação."
  12. "Post Hoc, Ergo Propter Hoc" expressão latina que significa "se aconteceu depois de um fato, foi causado por ele". Exemplo: "Você notou que o El Niño só fez aquele estrago todo depois que o Fernando Henrique se elegeu. Esse cara causa todos os males." ou "Depois que você disse que estava tudo errado, tudo começou a dar errado na minha vida."
  13. Pergunta sem sentido pergunta que traz em si uma incoerência. Exemplo: "O que aconteceria se uma força irresistível atuasse sobre um corpo imóvel?" (Se uma força é irresistível, nenhum corpo está imóvel) ou "Você entende que Deus criou o demônio para exercer mais controle sobre os humanos?"
  14. Exclusão do Meio-Termo ou Dicotomia Falsa argumento que só considera os dois extremos entre várias possibilidades. Exemplo:"Se você não está do meu lado, está contra mim!" ou "Ou você acredita em Deus, Jesus Cristo, em todos os santos, na infalibilidade do Papa ou você é um ateu!"
  15. Curto Prazo versus Longo Prazo subconjunto da falácia anterior, mas muito comum. Exemplo:"Não podemos investir mais em educação porque o problema da violência precisa de solução mais imediata."
  16. Declive Escorregadio caso em que se aceitamos um meio termo, ele necessariamente conduzirá a algum extremo. Exemplo: "Se você deixar o aluno ir fazer xixi uma vez, ele vai acabar querendo ir toda hora e aí vai virar bagunça." ou "Na hora em que começarem a permitir o uso de armas pequenas, logo logo todos terão armas enormes."
  17. Confusão de Correlação e Causa argumento em que uma coincidência estatística é entendida como causa. Exemplo: "Mais de 50% dos homossexuais têm curso superior, conclui-se que estudar transforma a pessoa em homossexual."
  18. Espantalho argumento que ridiculariza uma posição intelectual para facilitar o ataque. Exemplo: "Não posso apoiar alguém que se diz filho de macacos!" (para ridicularizar o Darwinismo)
  19. Evidência Suprimida ou Meia Verdade apresentar uma evidência escondendo alguns detalhes que a invalidariam. Exemplo: "Este bairro está muito violento, só ontem morreram duas pessoas." (ele só não disse que as duas morreram de causas naturais).
  20. Palavras Equívocas utilizar eufemismos, ou seja, outras palavras "enfeitadas" para designar conceitos desagradáveis cujas verdadeiras palavras tenham conotação negativa. Exemplo: "A ONU mandou uma força de paz para aquele lugar" (sabemos o que é uma força de paz, é um pequeno exército armado até os dentes) ou quando o comandante fala para o soldado: "Precisamos manter a ordem, pode cuidar dos sem-terra."

(1) "O Mundo Assombrado pelos Demônios", página 207, parágrafo 4. Editora Companhia das Letras

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