POR QUE É PROIBIDO? Parte
1 – Sede de Poder
Nas primeiras décadas do século XX, a maconha era
liberada, embora muita gente a visse com maus olhos. Aqui no Brasil,
maconha era "coisa de negro", fumada nos terreiros de candomblé
para facilitar a incorporação e nos confins do país por agricultores
depois do trabalho. Na Europa, ela era associada aos imigrantes árabes e
indianos e aos incômodos intelectuais boêmios. Nos Estados Unidos, quem
fumava eram os cada vez mais numerosos mexicanos – meio milhão
deles cruzaram o Rio Grande entre 1915 e 1930 em busca de trabalho. Muitos
não acharam. Ou seja, em boa parte do Ocidente, fumar maconha era
relegado a classes marginalizadas e visto com antipatia pela classe média
branca. POR QUE É PROIBIDO?
Parte 2 – Fibras sintéticas e papel Mas é improvável que a cruzada fosse motivada apenas
pela sede de poder. Outros interesses devem ter pesado. Anslinger era
casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante petrolífera Gulf
Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont.
"A Du Pont foi uma das maiores responsáveis por orquestrar a destruição
da indústria do cânhamo", afirma o escritor Jack Herer, em seu
livro The Emperor Wears No Clothes (O imperador está nu, ainda sem
tradução). Nos anos 20, a empresa estava desenvolvendo vários produtos
a partir do petróleo: aditivos para combustíveis, plásticos, fibras
sintéticas como o náilon e processos químicos para a fabricação de
papel feito de madeira. Esses produtos tinham uma coisa em comum:
disputavam o mercado com o cânhamo. Seria um empurrão considerável para
a nascente indústria de sintéticos se as imensas lavouras de cannabis
fossem destruídas, tirando a fibra do cânhamo e o óleo da semente do
mercado. "A maconha foi proibida por interesses econômicos,
especialmente para abrir o mercado das fibras naturais para o náilon",
afirma o jurista Wálter Maierovitch, especialista em tráfico de
entorpecentes e ex-secretário nacional antidrogas. Anslinger tinha um aliado poderoso na guerra contra a
maconha: William Randolph Hearst, dono de uma imensa rede de jornais.
Hearst era a pessoa mais influente dos Estados Unidos. Milionário,
comandava suas empresas de um castelo monumental na Califórnia, onde
recebia artistas de Hollywood para passear pelo zoológico particular ou
dar braçadas na piscina coberta adornada com estátuas gregas. Foi nele
que Orson Welles se inspirou para criar o protagonista do filme Cidadão
Kane. Hearst sabidamente odiava mexicanos. Parte desse ódio talvez se
devesse ao fato de que, durante a Revolução Mexicana de 1910, as tropas
de Pancho Villa (que, aliás, faziam uso freqüente de maconha)
desapropriaram uma enorme propriedade sua. Sim, Hearst era dono de terras
e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel.
Ou seja, ele também tinha interesse em que a maconha americana fosse
destruída – levando com ela a indústria de papel de cânhamo. POR QUE É PROIBIDO? Parte 3 – Controle Social Anslinger também atuou internacionalmente. Criou uma
rede de espiões e passou a freqüentar as reuniões da Liga das Nações,
antecessora da ONU, propondo tratados cada vez mais duros para reprimir o
tráfico internacional. Também começou a encontrar líderes de vários
países e a levar a eles os mesmos argumentos aterrorizantes que
funcionaram com os americanos. Não foi difícil convencer os governos –
já na década de 20 o Brasil adotava leis federais antimaconha. A Europa
também embarcou na onda proibicionista. "A proibição das drogas serve aos governos
porque é uma forma de controle social das minorias", diz o cientista
político Thiago Rodrigues, pesquisador do Núcleo de Estudos
Interdisciplinares sobre Psicoativosa. Funciona assim: maconha é coisa de
mexicano, mexicanos são uma classe incômoda. "Como não é possível
proibir alguém de ser mexicano, proíbe-se algo que seja típico dessa
etnia", diz Thiago. Assim, é possível manter sob controle todos os
mexicanos - eles estarão sempre ameaçados de cadeia. Por isso a proibição
da maconha fez tanto sucesso no mundo. O governo brasileiro achou ótimo
mais esse instrumento para manter os negros sob controle. Os europeus também
adoraram poder enquadrar seus imigrantes. Estava erguida uma estrutura mundial interessada
em manter as drogas na ilegalidade, a maconha entre elas. Um ano depois,
em 1962, o presidente John Kennedy demitiu Anslinger – depois de nada
menos que 32 anos à frente do FBN. Um grupo formado para analisar os
efeitos da droga concluiu que os riscos da maconha estavam sendo
exagerados e que a tese de que ela levava a drogas mais pesadas era
furada. Mas não veio a descriminalização. Pelo contrário. O presidente
Richard Nixon endureceu mais a lei, declarou "guerra às drogas"
e criou o DEA (em português, Escritório de Coação das Drogas), um órgão
ainda mais poderoso que o FBN, porque, além de definir políticas, tem
poder de polícia.
|
||
[ Forúm ] [ Porque é Proibido? ] [ A Maconha faz Mal? ] [ A Maconha Faz Bem? ] [ O Passado da Maconha ] [ O Presente ] [ O Futuro ] [ PAGINA INICIAL ] |