Bancarrota

Texto de F. Pereira Nóbrega, publicado no jornal Correio da Paraíba em 03 de agosto de 1999

 

  É inevitável - estou ouvindo.

  Inevitáveis são os caminhos para se atingir a modernidade, o ingresso no Primeiro Mundo, o preço a pagar para isso. Ou tudo seria evitado se quiséssemos o eterno subdesenvolvimento...

  Só um detalhe julgo discutível: o preço a pagar poderia ser, no mínimo, mais barato. O que nos madaram pagar foi de importação sem protecionismo, de desemprego sem limites, de juros "escorchantes" na eterna vigília das crises mundiais.

  Dito fica, portanto, que nem tudo dessa crise atual é culpa plena de Cardoso. Toda a opção tem seu preço. Mesmo assim, nem tudo o exime de culpa. Entre opção e preço - imagine a madame escolhendo jóias - a inteligência privilegia o viável. A vaidade, pelo contrário, pivilegia o mais caro. Entre os dois, Cardoso, o vaidoso e o intelectual, privilegiou a vaidade. Sim, porque o preço poderia ser bem mais barato.

  Do Real de seu primeiro dia, nada mais hoje restou. Nem sua paridade com o dólar, nem a moeda estável, nem frangos nem dentaduras. O país quebrou. É bancarrota mesmo. Não quebrou porque se candidatou ao Primeiro Mundo, mas porque, para tanto, para impressionar os de fora e os que, sendo de dentro, querem ser como os de fora, escolheu o preço mais alto.

Cardoso poderia liberar a importação parcial ou totalmente... Escolheu o mais caro: liberou totalmente, abriu mais que os portos aos produtos estrangeiros... Ao fim de cada mês, diziam de nossa balança comercial no vermelho. Homem sensato nenhum precisava ser vidente para pressentir o "dia seguinte" a esse, das divisas saindo mais que entrando...

Mas o grande estadista, que enfim se reelegeu, escolheu o preço mais alto, o preço da balança comercial no vermelho. Preferiu importar sem restrições todas essas quinquilharias que fazem a festas dos camelôs nas feiras de mil e uma inutilidades.Agora, por demais tarde, limita importações.

Poderia ter diminuído os juros bancários o nosso tão inteligente presidente. Mas, novamente, preferiu o mais caro. Triplicou a dívida interna, duplicou a dívida externa. Embutido nos preços dos juros extorsivos estão as falências e concordatas, enfim, a economia paralisada. Produto interno bruto em declínio, desemprego, desemprego, desemprego... que traz consigo o desespero e a violência...

Vendesse as estatais, algumas, vá lá. Mas preferiu dá-las a preço de banana, todas. Pagas com o dinheiro do contribuinte, via empréstimo ao BB, não poderia ser. Se ele aplicasse esse dinheiro e outros capitais no fortalecimento nosso perante eventuais crises, ainda se poderia aceitar, mas preferiu nosso ilustro intelectual salvar bancos falidos.

De tudo isso, da opção feita, aceitamos que alguma parcela seria inevitável. Tamanha assim, porém, não! A crise mundial é pior para o mais fraco. Sim, porque decorridos os gloriosos 4 anos, ficamos entre os mais fracos. E continumanos a correr atrás de um capitalismo magnífico sem capital. Ou seja: o desenvolvimento com o capital alheio, monitorado pelo capital alheio chamado FMI.

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