Análise Mútua
Trecho do capítulo 3 do livro de Teresa Pinheiro "Ferenczi do Grito à Palavra" Jorge Zahar Ed., Rio de Janeiro, 1995
"A proposta de análise mútua não chegou a ser conceituada formalmente e faz parte de notas inseridas no Diário Clínico de Ferenczi. Assim como a técnica ativa, ela seria uma prática destinada a ser aplicada muito raramente e com alguns pacientes.
Não significa o que o nome sugere (uma análise em que haveria dois analistas e dois pacientes que alternariam os papéis), mas uma análise onde a percepção que o paciente tem dos sentimentos subjetivos do analista seria por este levada em consideração.
O analista poderia concordar francamente com o paciente, mas também, eventualmente, dar-lhe explicações do seu próprio vivido para melhor explicar sua dinâmica psíquica. Resumindo, tratar-se-ia de uma análise em que o paciente poderia interpretar o analista no sentido de que suas observações seriam ouvidas no registro de uma verdadeira interpretação, e não como fantasias ligadas à transferência, como acontece na análise clássica"
Trechos do
artigo "Assimetria e mutualidade na relação analítica:
Lições atuais a serem extraídas da relação
Freud-Ferenczi" de Axel Hoffer, publicado no Boletim de Novidades da Livraria
Pulsional n. 55, 1993, São Paulo. Publicado originalmente em
Le Coq-Héron, n. 125, julho de 1992. Tradução Mônica M.
Seincman.
"Os questionamentos feitos por Sándor Ferenczi sobre a teoria e a técnica da psicanálise segundo Freud, ainda não foram completamente integrados pela psicanálise contemporânea. O primeiro questionamento é sobre o princípio de abstinência em Freud. A vasta correspondência Freud-Ferenczi e o Diário Clínico revelam que seu último questionamento atinge o cerne da relação psicanalítica. Este artigo examinará este último questionamento endereçado a Freud; a saber, a insistência apaixonada de Ferenczi em uma relação analítica mais igualitária do que autoritária, que culmina em sua experiência de "análise mútua". O estudo dos 25 anos de relação pessoal, profissional e analítica fascinante entre Freud e Ferenczi nos coloca em uma posição favorável para examinar como as tendências opostas de assimetria e mutualidade criam uma tensão inevitável e - em minha opinião - necessária, na relação analítica. Finalmente iremos ver como o analista pode manter um nível de tensão que levará a um benefício terapêutico ótimo.
Trabalho apresentado no colóquio : "A herança de Ferenczi, discípulo e amigo de Freud" (Paris, janeiro de 1992).
Neste artigo considerarei as diferenças e tensões históricas entre Sigmund Freud e Sándor Ferenczi como metáfora dos conflitos , dilemas e tensões experimentadas pelos psicanalistas hoje em dia, em cada sessão, analítica. Concentrar-me-ei no terceiro dos três pontos de divergência entre eles. No primeiro ponto, provavelmente o mais conhecido, temos Freud do lado da abstinência e da frustação, e Ferenczi ao lado da gratificação e da indulgência. No segundo ponto, Freud está mais orientado em direção à cabeça e ao intelecto, enquanto Ferenczi nitidamente se orienta em direção ao coração e aos sentimentos. E finalmente o terceiro ponto mostra que Freud se inclina mais para uma relação analítica autoritária e assimétrica; Ferenczi, pelo contrário, procura apaixonadamente uma relação de mutualidade e igualdade com Freud, seu antigo analista.
(...) Como e por que , a relação psicanalítica difere das outras relações ?
"No que concerne à análise, satisfazer a necessidade de amor da doente é tão desastroso e arriscado quanto sufocá-las. O caminho que deve seguir o analista é completamente diferente e a vida real não comporta análogos." (S.Freud, in Observações sobre o amor de transferência", a Técnica psicanalítica, p.124).
O que Freud diz aqui é que a relação analítica é diferente de todas as outras relações; e que ela é tão diferente que não há modelo na vida real !
Que ironia: na análise o analista é vivido na transferência como se fosse várias pessoas - portanto modelos - na vida do paciente, e no entanto, não há modelo para o analista.
(...) Tendo em mente o fato de que a relação analítica é específica "para qual não há modelo modelo"- sentimos a necessidade de termos consciência do que se passa em nós para "resistir" enquanto que analista e analisando navegam entre o "mau" do desprendimento intelectual e o "pior" de uma "loucura a dois" emocionalmente carregada.
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